A comunidade pode ser entendida como um composto de expectativas, interações e comportamentos que os humanos realizam entre si. Por outro lado, a comunidade cria uma rede de sentidos que partilhamos entre nós e que nos permite comunicar, através de imagens, sentidos e sentimentos que, sendo de cada um, tocam a todos.

No entanto, no seio da comunidade existe uma tensão entre uma vontade coletiva e a liberdade individual. Exemplos disso são as histórias de Aniki Bóbó e História Trágica com Final Feliz em que as personagens principais vivem entre o seu mundo e o mundo dos adultos (comunidade de que também fazem parte), procurando por um lado adaptar-se, e por outro encontrar o seu lugar. O mesmo se pode dizer da rapariga que desenha em O Tempo – Passado e Presente.

O que é que fundamenta ou permite o estar junto? Segundo Michel Maffesoli, por vezes, é uma ideia do que deve ser; outras vezes, pelo contrário, é o sensível, a comunicação, a emoção coletiva. Reconhecer com outros é reconhecer o que nos une ao outro, e é esse reconhecimento que fortalece os laços de pertença entre cada um, com qualquer um – seja qual for a sua identidade étnica, nacional, religiosa, política. Esta ligação ao todo, em que o nós se torna mais forte do que o eu, pode ser descrita como sentimento de comunidade.

Tal como os meninos sob o céu estrelado de Aniki Bóbó, também nós nos questionamos sobre a vida e a morte e para cada um o coração da menina de História Trágica com Final Feliz será o símbolo da nossa singularidade. Este reconhecimento com o outro é fonte de compreensão sem implicar um consenso, um sentido único –  obras como O Tempo – Passado e Presente ou Domain Field convidam o espectador a encontrar a sua narrativa. Cada um é convidado a expressar-se, a fazer sentido. Fazer parte de uma comunidade não significa deixar de parte a nossa individualidade, a forma como interpretamos e refletimos sobre o mundo. A arte contribui para que a comunidade lide com os conflitos e diferenças que existem dentro dela, precisamente por cada artista, expressando a sua visão do mundo, oferecer à comunidade “outras realidades, outras formas de senso comum, ou seja, outros dispositivos espaço-temporais, outras comunidades de palavras e coisas, formas e significados.”Jacques Ranciére, The Emancipated Spectator, 2008.